FAMÍLIA DE MANOEL GOMES DE AGUIAR . Blog que nasceu com a Homenagem a Manoel Gomes de Aguiar, "Maneca", por ocasião do seu Centenário de Nascimento: 14/05/1909 a 14/05/2009. As mensagens dos familiares e amigos não sofreram revisão, foram mantidas ao sabor dos sentimentos que brotaram do coração de cada um dos que as escreveram.Prevalece o tom coloquial que existe na comunicação daqueles que se amam.
sexta-feira, 22 de junho de 2012
SÃO JOÃO NO BREJINHO
Sempre que se aproxima o São João relembro as festas juninas do Brejinho, fazenda de meu pai, situada entre as cidades de Cedro de São João e Malhada dos Bois, no estado de Sergipe. Lá o período junino era esperado com muita ansiedade, principalmente pela festa de São João, quando se reunia toda a família, filhos, netos, alguns parentes, trabalhadores, compadres, afilhados e amigos.
Era uma ocasião especial em que todos vestiam suas roupas novas cuidadosamente feitas com tecido estampado e bem colorido. A casa era enfeitada com palhas de coqueiro e com bandeirolas feitas por nós mesmos, usando papel de revistas, cordão e goma feita com tapioca.
Mamãe preparava todos os tipos de guloseimas: pamonhas, canjicas, manauês, bolos de milho, massa puba e de macaxeira, mungunzá, milho cozido, pé de moleque, bolachinha de goma, arroz doce e tantas outras delícias.
Ao anoitecer, papai preparava e trazia nos ombros uma enorme fogueira (maior do que ele), cavava um buraco no terreiro e aí fincava a gigantesca fogueira na posição vertical. Usava querosene, papel, cavacos de lenha e fósforo para acendê-la e, quando o fogo subia, ele ficava a olhar a criançada soltar fogos: chuvinhas, traques e estrelinhas.
Mais tarde, os adultos soltavam bombas, vulcões, foguetes de vara e balões, alguns comprados prontos e outros, enormes e coloridos, por eles próprios confeccionados. Os balões eram soltos nas noites frias e chuvosas do São João e todos ficavam a olhar a subida e a acompanhar seu trajeto até desaparecerem na noite. Soltar balões na fazenda, com os campos molhados, em tempo de inverno, não se constituía em perigo algum. Era só beleza.
Papai não gostava de dançar, mas, todos os anos, chamava um sanfoneiro, geralmente seu Hercílio, do Poço dos Bois, para tocar com sua sanfona de oito baixos. Mamãe, incentivada por papai, dançava com todos nós, deslizando pela imensa sala do Brejinho com uma leveza invejável. A dança de roda era a que a criançada mais gostava.
Ainda recordo as quadrinhas que mais se repetiam na dança de roda:
“Rodeiro novo,
Quero ver rodar,
Quero ver rodar morena,
Quero ver balancear”
“Sete e sete são quatorze,
Três vezes sete , vinte e um,
Tenho sete amores no mundo,
Só tenho paixão por um”.
Lá pela madrugada, a animação era cada vez maior, a brincadeira de roda já saía da sala e passava a ser no terreiro, em volta da fogueira, se deslocando até a frente do grande curral, onde bezerros esperavam a chegada das vacas para a ordenha e a mamada da madrugada.
Quando a fogueira começava a cair, alguns aproveitavam para assar espigas de milho nas brasas. Fogueira caída, brasas espalhadas, agora a vez do trabalhador braçal, Cícero de Marciano, fazer sua demonstração de fé: desfilava calmamente, com os pés descalços , por sobre as brasas vivas.
Acabada a festa, a meninada ia dormir para acordar cedo, procurar algum foguete, traque ou bomba, eventualmente perdido na noite, para soltar logo cedo.
A festa em homenagem a São João Batista , o precursor de Cristo, e que também O batizou , era um grande encontro familiar.
Uma festa simples mas muito alegre, assim era o nosso SÃO JOÃO NO BREJINHO!
Antonia Roza
23/06/2010
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