Em 21 de julho de 1907, nascia no sítio Recreio, município de Laranjeiras, no Estado de Sergipe, Maria Anita Alves do Nascimento, filha de João Romualdo do Nascimento e Hermínia Alves do Nascimento. Eram seus avós paternos Romualdo José do Nascimento e Maria Júlia do Nascimento e avós maternos Eugênia Maria do Amor Divino e Francisco Valentim da Silva, este português, da cidade do Porto.
Anita, filha caçula, a décima primeira filha do casal, cresceu com muito mimo dos pais e dos irmãos, dividindo o tempo entre o Sítio Recreio e a casa que seus pais tinham na cidade de Laranjeiras. Quando estava no sitio, além das brincadeiras habituais de toda criança, aprendeu a nadar e a pescar e se tornou exímia mergulhadora.
Seus estudos foram na famosa Escola Laranjeirense, da Professora Zizinha Guimarães, escola que além das disciplinas básicas, ensinava francês, esperanto, música, dança e teatro.
Paralelamente e como era costume na época, ela aprendeu bordado, corte e costura, e outros trabalhos manuais. Era, portanto, muito prendada.
Apesar de morar no interior,Anita acompanhava a alta moda do sul do país, pois um de seus irmãos, Hermínio Alves do Nascimento (BINA), que era do Exército, no Rio de Janeiro, comprava os lançamentos da moda e imediatamente mandava para ela. Moça culta e bonita participava dos eventos da cidade, sendo habitualmente convidada para ser porta-estandarte nos desfiles cívicos e nas procissões. Também gostava muito de dançar e dançava muito bem. Quando havia baile na cidade ela falava com os pais que permitiam que ela fosse, mas somente se acompanhada de seu irmão Oscar Nascimento que de certa forma decidia com quem ela poderia dançar.
Vários rapazes desejaram casar com ela e, aos 21 anos, recebe proposta de casamento de um rapaz muito trabalhador e muito bonito, sobrinho de sua vizinha Carolina de Aguiar (Calú). Ele veio trabalhar, com seu carro de bois, para abastecer de cana os engenhos do município de Laranjeiras. En cantado com a moça, ele logo conseguiu se aproximar da família, se tornar amigo de Oscar, irmão dela, e posteriormente conquistá-la.
Tamanha foi a atração entre os dois que, em menos de dois anos, namoraram, noivaram e, no dia 26/11/1929 na Igreja Matriz de Laranjeiras, casaram festivamente.
O casal foi morar na Fazenda João Vieira, município de Cedro de São João, onde Manoel Gomes de Aguiar (Maneca) já morava quando solteiro. De Laranjeiras, além de um grande enxoval e objetos de casa, Anita levou algumas cabeças de gado que lhe foram doadas por seus pais.
O amor que tinha ao marido era tamanho que Anita, moça da cidade, passou a viver, ao lado dele, a vida simples do campo; passou a fazer os trabalhos rudimentares típicos das donas de casa da zona rural, além de bordar e costurar para ganhar dinheiro e ajudar nas despesas da família.
Aí no campo também, Anita passou a servir aos mais humildes, sendo requisitada para escrever e ler cartas dos parentes distantes, cortar cabelos e orientar em cuidados com a saúde e a higiene dos adultos e das crianças. Em pouco tempo passou a ter diversos afilhados e compadres.
Alguns anos se passaram, e depois de muito trabalho, Maneca e Anita conseguiram construir sua própria casa na Fazenda Brejinho, município de Malhada dos Bois, propriedade que foi doada pelos pais de Maneca.
Anita e Maneca tiveram 11 filhos que educaram com muito amor, carinho e até com muito rigor, sempre seguindo os princípios cristãos e as normas da boa convivência.Muito preocupada com o desenvolvimento intelectual dos filhos, ela começava a alfabetizá-los desde pequeninos e, sendo assim, quando chegava a época da escola, todos já sabiam ler e escrever.
Anita, esposa e mãe amorosa, sempre presente e dedicada, renunciava sua comodidade, seus interesses e esquecia seu cansaço pelo bem estar de seus familiares e não só destes, mas de todos aqueles que tiveram a felicidade de conviver com ela. Pode-se dizer que era uma pessoa que doava sua própria vida pela a felicidade do outro.
Muito trabalhadora, dentro do lar ela fazia tudo, desde o preparo das refeições, à confecção e higiene das roupas, além os demais serviços de limpeza da casa.
Cumpria suas atividades domésticas com muita habilidade e rapidez e, enquanto o marido trabalhava no campo, ela estava sempre atenta a todo o movimento de gado e de trabalhadores, em volta da sede da fazenda. Além dessa vigilância ao que estava ao alcance do seu olhar, era ela quem fazia o controle das despesas e receitas da propriedade e vivia sempre atenta ao cumprimento dos prazos de pagamento dos débitos contraídos.
Anita detestava ter dívidas e, em assim sendo, sempre que ela e o esposo conseguiam pagar um grande débito, comemoravam com fogos, missa de ação de graças e, muitas vezes, com festa.
Ela era uma pessoa alegre, afável, com uma facilidade de comunicação que a todos encantava. Era de uma sabedoria inigualável. Crianças, jovens, adultos e idosos gostavam de conversar com ela, pois nunca lhe faltavam palavras de carinho, de estímulo, de conforto, ou até mesmo um assunto mais ameno para distraí-los por muitas horas. Era incansável incentivadora do estudo e do trabalho.
Mulher de muita fibra, correta em suas atitudes, sincera, verdadeira, não gostava de mentiras, fofocas, nem de meias-conversas. O tempo dela era muito precioso para usar com coisas fúteis.
Olhar firme e penetrante, parecia adivinhar os pensamentos, assim não se conseguia enganá-la facilmente.
Pessoa educada, delicada, incapaz de menosprezar quem quer que fosse, mas que não agia contra seus princípios para agradar ou conseguir alguma vantagem de alguém. Ela era uma pessoa de sim, sim; não, não!
Mulher de muita fé, em sua casa era muito comum, em especial à noite, todos se reunirem e se ajoelharem para rezar. Ela fazia tríduos, novenas e outras orações. Desta forma, na família todos são muito devotos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e todos têm muita fé. Esse foi um presente que ela deixou para sua família.
Anita era carinhosa por natureza, muito dócil, solidária e acolhedora recebia e acolhia a todos com muita alegria. Sua casa era muito freqüentada pelos parentes e amigos que moravam fora e, mais freqüentemente, pelos parentes e amigos da região.
A grande mesa da sala de jantar era famosa pela fartura de deliciosas comidas que ela fazia numa incrível rapidez. Em volta dela sentavam-se, lado a lado, seus familiares, seus trabalhadores e todos que estivessem em casa na hora das refeições. Às vezes chegavam de surpresa trinta, e até cinqüenta pessoas em sua casa e ela com grande rapidez preparava refeição para todos.
Na época de férias sua casa ficava repleta de sobrinhos, primos e netos que deixavam a capital para passar as férias na fazenda.
Era muito comum também Anita acolher em sua casa pelo tempo que fosse necessário, parentes e amigos que precisavam de repouso e de uma alimentação mais saudável e forte.
Assim ela se doava com alegria sincera para ver a felicidade e o bem estar dos outros, renunciando a seu próprio conforto e esquecendo seu cansaço.
Anita gostava muito de ler e de escrever. Sua capacidade literária desde cedo se manifestou nas cartas que escrevia, na maneira de ler, de escrever, de falar e de recitar. Assim, quando passou a morar no campo e não tinha acesso a jornais ,nem revistas, guardava os pedaços de jornais e revistas em que se embalavam as barras de sabão ou alguma outra mercadoria, para desamassar e depois ler as velhas notícias e reportagens. Deste modo ela saciava sua fome de leitura.
Quando já estava idosa, com os filhos todos fora de casa, e o marido continuava com as atividades no campo, ela ficava sozinha, cuidava dos afazeres domésticos e depois se dedicava a ler e a escrever.
Neste período e com o sofrimento pela morte do filho Antônio Hermínio, com apenas 36 anos de idade, ela escreveu mais de cem poesias que fazem parte de seus livros “A DOR DA SOLIDÃO” e “PASSAGENS DA VIDA”. Escreveu também vários contos e histórias do seu tempo que se distribuem em outros livros ainda inéditos.
Com a saúde cada dia mais debilitada, Anita e seu esposo compraram casa em Aracaju e, no município de Laranjeiras, terra de Anita, adquiriram a “Fazenda Mata”, distante 20 quilômetros de Aracaju, onde passaram a morar perto dos filhos e da capital.
Poucos anos se passaram e Anita, que já era cardíaca há mais de 20 anos, veio a falecer antes de completar 73 anos de idade, em 01.06.1980.
Anita deixou para seus descendentes, parentes e amigos
, além de sua produção literária, um legado de força, coragem, determinação, honestidade, amor, carinho e muita fé.
Sua imensa gratidão a Deus, por sua vida e sua sorte, expressou nesta estrofe de uma das suas poesias:
"Termino pedindo a Deus
Que conservai a minha sorte
De ser querida por todos
Até na hora da morte."
(Anita Nascimento)
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
UMA PRECE PARA O AVÔ MANECA
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